Soneto
Tempo das cerejeiras agressivas
A avançar pelo meu quarto dentro.
Velho tempo das noites explosivas
Em que o sangue crescia como o vento!
Tempo - aproximação das coisas vivas,
Do seu hálito doce, violento.
Tempo - horas e horas convertidas
No ouro raro e inútil dum lamento...
Tempo como ferida no meu lado,
Coração palpitando sobre a lama.
Tempo perdido, sangue derramado,
Resto de amor que se deixou na cama,
Horizonte de guerra atravessado
Pelo corpo audacioso duma chama.
Alexandre O'Neill, Poesias Completas, Assírio e Alvim