sexta-feira, julho 20, 2007

MÁRIO BEIRÃO - POETA DE BEJA

foto João Espinho



CASTELO DE BEJA




Castelo de Beja,
No plaino sem fim;

Já morto que eu seja,
Lembra-te de mim!



Castelo de Beja,
De nuvens toucado;

A luz que te beija
É sol do Passado!



Castelo de Beja,
Espiando o inimigo;

Te veja ou não veja,
Sempre estou contigo!



Castelo de Beja,
Feito de epopeias;

Um sonho flameja,
Nas tuas ameias!



Castelo de Beja,
Subindo, lá vais...
Tu fazes inveja
Às águias reais!



Castelo de Beja,
Lembra-te de mim:

Saudade que adeja,

No plaino sem fim...



foto trekeart




Barros de Beja

Ledos campos de Outrora! em plena festa.
Por onde a minha infância,
Ditosa, decorreu,
Entre fumos de cálida fragrância,
Deslumbramentos, extases do Céu.
Que resta
Desse inefável, em que tudo abria
Em flor e lumes siderais,
Desse inefável de algum dia ?
Vago, indistinto
Sorrir de pôr-do-sol -um sonho extinto...
Uma saudade a desfolhar-se em ais.

Pudesse eu regressar
A mim, volver
Ao intimo do ser,
Ao Anjo em que vivi transfigurado,
De longe em longe, como absorto, a errar...

Plainos de oiro de Beja do Passado,
Da minha clara infância e de outro Mundo,
Libertai-me do sono em que me afundo...
Que eu seja Luz, constelação sagrada,
O' voo para Deus duma «queimada»

Abril de 1960






foto trekeart




Vales de verdes pinos tão sòzinhos

" Vales de verdes pinos tão sozinhos,
Alumiados da graça do Senhor;
E, em arroubos ao Céu, - jardins em flor
De enlaçadas roseiras sem espinhos...


Ermidas onde ajoelham pobrezinhos,
Sorrindo, como Cristo, à própria dor;
Planícies de enigmático torpor
Onde se escutam vagos murmurinhos...


Por ti, meu pensamento é mais profundo
E o meu canto mais alto se alevanta,
Ó Lusitânia, coração do Mundo!


O mar ergue o teu nome em seus delírios!
E, em tardes de milagre, - ó mais que santa,
Sobre o teu corpo o céu desfolha lírios! "


Mário Beirão








Mário Pires Gomes Beirão (1890-1965) nasceu em Beja, na Rua das Portas de Aljustrel, e faleceu em Lisboa. Licenciou-se em Direito pela Universidade de Lisboa, exercendo o cargo de conservador do Registo Civil de Mafra. Como poeta, insere-se na corrente do Saudosismo, tendo sido amigo de Teixeira de Pascoaes, Afonso Lopes Vieira, entre outros. Dessa amizade resultou a sua colaboração na revista A Águia. É aliás nessa revista que se estreia como poeta com o poema «As Queimadas» (nº4, de 15 de Janeiro de 1911). Em 1912 publica a plaquette Sintra. Principais obras: O Último Lusíada (1913), Ausente (1915), Lusitânia (1917), Pastorais (1923), A Noite Humana (1928), Novas Estrelas (1940), Mar de Cristo (1957), O Pão da Ceia (1964). Escreveu também a obra inserida na literatura de viagens Oiro e Cinza (1946), Poesias Completas (edição organizada por António Cândido Franco e Luís Amaro, IN-CM, 1997).

(Informação Projecto Vercial)

A paisagem alentejana é uma constante na sua obra poética, sempre convidando a alma à reflexão e à busca do infinito, tornando-se o espaço perfeito para as realizações da sua inspiração. Cria-se aí um espaço idealizado, no qual se manifesta seu lado bucólico-metafísico. Neste cenário coloca-nos o seu gosto pela luz do ocaso, do vento outonal, do culto do vago, da figura espectral e do sentimento da ausência.

(Elementos encontrados em Poesia e Prosa)

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